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“Doido é Tu” era o que se lia, em letras garrafais, no adesivo colado na traseira da Kombi do Centro de Atenção Psicossocial Machado de Assis, em Tucuruí, interior do Pará, com seus passageiros espremidos nos assentos e disputando o ventinho sagrado que entrava pela janela semi aberta. Estavam todos vestidos em trajes juninos, prontos para apresentar a quadrilha ensaiada ao longo de semanas para crianças de uma escola inteira. Com roupas de chita, laço de cetim no cabelo, maria chiquinhas e pintas nas bochechas, eles conversavam entre si- alguns- enquanto outros apenas observavam, com olhares distantes, as ruas da cidade passando pela janela. Esse foi um dos primeiros momentos que dividi com os usuários do CAPs de Tucuruí e com a amiga e jornalista Fabiana Nanô,  a qual em 2013 se interessou por buscar relatos, informações e histórias à respeito da “loucura" no Sul e Sudeste do Pará e o trabalho desenvolvido pelo mais reconhecido psiquiatra da região, o Dr. Geraldo Salles. Essas histórias dariam origem ao seu segundo (e maravilhoso, diga-se de passagem) livro.  Ela entrevistava, eu fotografava. Foram muitas visitas às unidades dos CAPs espalhadas pelo Estado Paraense, uma tribo indígena onde quase não se chega de carro, uma comunidade quilombola aonde só se chega de barco e algumas casas de médicos, enfermeiros, colegas e moradias de pacientes do psiquiatra Dr. Geraldo, hoje também meu amigo. Ouvi histórias de partir o coração em dezenas de milhares de pedaços e outras de fazê-lo transbordar de emoção. Retratei rostos e sorrisos de pessoas que me fortalecem quando penso na luta que viveram e que vivem, sem trégua. Essas fotos são apenas um pedacinho, de uma grande história por se revelar.  

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